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A Esfige: cenários de escritura e cenários de autor em Clarice Lispector
Pinheiro Fernando.
XXXI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología. Asociación Latinoamericana de Sociología, Montevideo, 2017.

Resumen
O trabalho procura investigar um aparente paradoxo na obra de Clarice Lispector (1920-1977): autora entronizada no cânone da grande literatura brasileira, graças a seus textos complexos e intimistas, a resvalar no hermetismo, ela é hoje fenômeno de popularidade na internet (a mais citada na rede entre os autores brasileiros). Esse descompasso remete, no plano biográfico, a episódios que convergem para a formação de um pacto de leitura que supera a relação erudita entre escritor e seu público, mediado pela alta literatura, levando Clarice a ocupar um novo lugar, condizente com a figura do "escritor total". A argumentação vai valer-se do estudo de dois desses episódios: suas participações num congresso de literatura na Universidade do Texas (1963), em que discorre sobre a literatura de vanguarda no Brasil, e no congresso de bruxaria de Bogotá (1975), em que é lido seu conto "O ovo e a galinha". Evitando separar as esferas da vida social e da vida literária, o trabalho pretende compreender certos movimentos em princípio extra-literários da escritora Clarice Lispector em seus efeitos literários, na construção da modalidade do(s) pacto(s) de leitura estabelecido com seus leitores, em que está implicada a construção de imagens de escritor com feições bastante idiossincráticas ao longo de sua atividade literária, permitindo-lhe mover-se com igual desenvoltura no domínio da linguagem literária desfamiliarizante (para usar o critério do formalismo russo) e do uso cotidiano da linguagem, que, à diferença do primeiro, é transitivo e espontâneo. No primeiro caso, a Clarice romancista e contista, pelas características de sua linguagem altamente elaborada, remete a um leitor implícito capaz de seguir as instruções do texto, e que partilha assim dos valores literários do escritor (e da crítica) e adere, no limite, à imagem idealizada do escritor como produtor do que escapa ao tempo e à história – o gênio, o demiurgo, a Esfinge são algumas entre as tantas valências dessa figura. De outro lado, os escritos não literários de Clarice e suas manifestações públicas contribuem para a desconstrução dessa mesma figura; e, no entanto, a lógica desse contraste é parte do enigma social a ser trabalhado. Como apoio heurístico, recorro à observação de Goffman sobre o perigo de separar o interior e o exterior das palavras ao tratar de literatura, que se traduz na descontinuidade entre o universo de significação do discurso e a mecânica de sua produção,implicando a superação da redução da literatura à representação (da natureza, da historia, do mundo etc), articulando-a aos modos de representar ou – o que é mais relevante no caso de Clarice – à recusa mesmo da representação. Mobilizo também a diferença estabelecida por Gisele Sapiro entre “estratégias de escritura” e “estratégias de autor”, que recobrem o interior e o exterior das palavras na que formulação de Goffman. O primeiro termo remete à visada intencionalista do gesto de escrever, ao trabalho com a linguagem e os objetivos mais ou menos conscientes que ele antecipa; o segundo visa a acumulação de capital simbólico para aceder à consagração.
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