Ao observar o campo religioso afro-brasileiro nos dias atuais, é possível perceber que o tema Alimentação tem possibilitado bastantes discussões. Um dos motivos que tem provocado esse intenso pensar na comida é justamente o fato de tocar num dos elementos estruturantes do candomblé: o sacrifício de animais. Tal tema que, desde os primeiros estudos acerca dessa religião, ocupou o interesse de pesquisadores das mais variadas linhas de pesquisa, hoje volta a ocupar o centro de pesquisas e debates, tanto por parte de pesquisadores quanto de religiosos. Quando se achava que as Ciências Sociais já tinham dado conta do tema, o assunto volta à pauta com toda força. Os movimentos religiosos de tendências revisionistas, que propõem a abolição do sacrifício de animais, muitas vezes se apresentam como a materialização de uma mudança estrutural e profunda de práticas tradicionais que em outras épocas jamais seriam contestadas. Da mesma forma, tendências alimentares contemporâneas adentram os terreiros, configurando novas práticas rituais da comida e exigindo dos pesquisadores novas abordagens da alimentação, agora não mais condicionando as comidas votivas à presença de carne. Ao observar dois desses movimentos e entrevistar algumas sacerdotisas brasileiras, este trabalho pretende pensar criticamente a relação entre candomblé e vegetarianismo. Fundamentado nas tradições da Antropologia da alimentação e nas sociologias da alimentação (Poulain, 2004), pretende-se apresentar a visão das iyalorixás que optaram pela abolição do sacrífico de animais nas suas práticas religiosas, e apresentar suas mais profundas motivações, chamando a atenção para o fato de que nem sempre uma dieta alimentar vegetariana é a sua principal motivação.