A despeito dos esforços realizados por referências intelectuais como Angela Davis e outras autoras/es, a discussão acerca do abolicionismo penal no mundo, em especial em países como o Brasil, é deficitária, e quando realizada permanece afeita a uma linguagem quase que incompreensível aos movimentos sociais antiprisionais. Assim, nos preocupam os impactos das repostas dadas aos efeitos das transformações societárias ocorridas a partir dos anos 1970 no mundo e que tiveram impacto econômico através do processo de reestruturação produtiva, assim como a emergência do neoliberalismo e mudança de relação entre Estado e sociedade no âmbito das práticas criminais e políticas criminais que também passaram por mudanças relevantes. Destaque para o abandono de práticas e políticas criminais de abandono à recuperação das pessoas privadas de liberdade e de práticas de bem-estar social. A resposta aos conflitos sociais tem se dado cada vez mais através de táticas de neutralização e imobilização dos ditos criminoso, políticas de segurança pública têm se tornado mais repressivas e militarizadas. Essas transformações foram denominadas por Wacquant (2001) como Estado Penal, que tem no encarceramento seu maior objetivo para responder as situações da violência. Políticas de “tolerância zero” se espalharam pelo mundo inteiro, através do slogan lei e Ordem que vem justificando a implementação de um estado de exceção como paradigma de governos contemporâneos (Agamben, 2004) balizados por relações de poder que se estruturam sobre ideologias coloniais e raciais. Pretende-se neste artigo discutir práticas abolicionistas penais a partir de uma perspectiva crítica, antirracista e popular.