As transformações vêm impactando diretamente as instituições de ensino superior. A centralidade que a educação, a ciência e a tecnologia assumiram nas últimas décadas fez aumentar o interesse pelo que as universidades formam e produzem. Como o conhecimento firmou-se como um pilar fundamental do desenvolvimento econômico e social, os diferentes atores procuram extrair das universidades os mais variados compromissos e resultados, ora mais alinhados aos interesses públicos, ora mais aos interesses econômicos e profissionais. Tais disputas e expectativas desafiam as universidades sob vários aspectos, obrigando-as a repensarem os seus fins, a sua governança e os seus papéis na sociedade. Apesar de não serem os únicos, nem os atores mais influentes, os movimentos sociais (MS) também interpelam a universidade. Com o propósito de compreender melhor as indagações que os MS dirigem à universidade, optou-se em desenvolver uma pesquisa empírica envolvendo alguns dos principais movimentos sociais do Sul do Brasil. O levantamento dos dados foi feito entre 2012 e 2013 e retomado entre agosto de 2016 a dezembro de 2018. Além da pesquisa bibliográfica e documental, foram realizadas 22 entrevistas. Entre os tantos resultados do estudo, cabe destacar a problematização epistemológica formulada pelos MS. Eles desafiam a universidade a se repensar enquanto instituição que produz e legitima determinados conhecimentos, assim como, deslegitima e torna ausentes outros. Eles denunciam o elitismo, o academicismo reinante e o isolamento que tem prevalecido na maior parte das universidades. O conhecimento deve vir acompanhado de uma reflexão crítica sobre o conhecimento do conhecimento que a universidade produz. Ao promover a ciência e a tecnologia, a universidade também precisa explicitar que ciência está defendendo, assim como, os compromissos éticos e políticos que a fundamentam.