O aborto é um importante tema sob a perspectiva da saúde pública e permeia a prática de diversas especialidades. Como algumas das interrupções envolvem ilegalidade há dificuldade em se dimensionar o fenômeno. Foi estimada a ocorrência global de 56 milhões de abortamentos induzidos entre 2010 e 2014, sendo 54,9% destes em situações inseguras. As taxas de abortamento não foram menores em países com legislação restritiva entre 2010-2014, mas foi percebido que medidas de planejamento familiar e acesso seguro ao abortamento são essenciais. Diante deste cenário, a formação de profissionais da saúde solicita atenção especial, pela magnitude do fenômeno, pela necessidade de habilidades ao cuidado das mulheres em situação de abortamento e pelas consequências das ocorrências para a saúde sexual, reprodutiva e mental das mulheres. Enfocamos a assistência a processos de abortamento e sua relação com a formação médica recebida em Ginecologia e Obstetrícia (GO) e Medicina de Família e Comunidade (MFC), de residentes de duas faculdades públicas paulistas. A pesquisa seguiu a metodologia qualitativa e a produção dos dados empíricos se norteou pela técnica de entrevista em profundidade (13 residentes). Os residentes em GO relatam pautar-se nas experiências práticas para condução dos casos de abortamento. Os residentes em MFC relatam discussões sobre o tema e suas conexões com questões de gênero. O conhecimento clínico, o desenvolvimento de habilidades e técnicas e a maior inserção da abordagem de gênero na formação, se revelam fundamentais para o exercício do cuidado integral às mulheres em processo de abortamento.