É bem sabida a importância de Graciliano Ramos (1892-1953) como profundo descritor da realidade social brasileira, sendo a trajetória biobibliográfica de um dos mais célebres literatos da Língua Portuguesa constantemente estudada à luz de muito variadas perspectivas. Este trabalho se trata de uma investigação da gênese social do romancista Graciliano à luz da sociologia e da psicologia. Nossa visada objetiva compreender os feixes de processos biopsicossociológicos em meio aos quais o escritor se afirmou romancista, enquanto vivia na cidade alagoana de Palmeira dos Índios e se dispôs a escrever Caetés, na década de 1920. Por meio de uma abordagem histórica que combina as técnicas bibliográfica e documental, o trabalho se desenvolveu orientado pelas contribuições metodológicas de Bourdieu (1996) e Elias (1995), que sugerem, respectivamente, a tríplice operação para a constituição da sociologia como uma ciência das obras culturais, e o estudo dos processos de psicogênese e sociogênese, chaves analíticas que se interpenetram e se complementam, e são utilizadas para fins didáticos na análise da trajetória social dos indivíduos. Diante do que foi analisado, conclui-se que as disposições de Graciliano Ramos para o romance foram despertadas por questões simbólicas, materiais, mas sobretudo existenciais: num universo de poucos risos, sempre esconso em pseudônimos, a experimentação do gênero romance, iniciada com Caetés, em 1925, e finalizada em 1938, com Vidas secas, foi, ao mesmo tempo, um doloroso exercício de recriação estética e ontogenética, de afirmação do nome próprio de Graciliano Ramos com romancista e como entidade cultural brasileira.