A arte é um meio expressivo para revelar características culturais e sinalizar tendências sociais. O objeto artístico desta pesquisa são telas de patchwork, confeccionadas pela junção de retalhos de tecidos e pertencentes ao universo da arte têxtil. É uma investigação de cunho qualitativo que se propõe a analisar telas da Exposição “Brasil, cheiros, temperos e sabores”, da 10a Brazil Pachtwork Show, realizada em 2016, na cidade de São Paulo, Brasil. Tendo em vista a temática da Exposição, o problema ora levantado é o de verificar, por meio das imagens das telas, se é possível compreender, de fato, aspectos constitutivos da diversidade de saberes e práticas culturais no Brasil. É, portanto, do terreno imagético das referidas telas, fotografadas em pesquisa observacional, que se objetiva analisar aspectos do meio sociocultural no qual estão inseridas. Os principais teóricos que servirão de esteio para essa análise são: Certeau (1994) com as noções de arte de fazer e cultura no plural, Fisher (1967) mostrando a arte condicionada pelo seu tempo e como modo de circulação de experiências, Gombrich (1991) com os termos expressão e ativação da emoção nos sentidos artísticos e Ortiz (2013) com os conceitos globalização e diversidade. De acordo com os alimentos representados, é possível identificar aqueles nativos e os advindos do processo de colonização. Além de conhecer elementos das diferentes regiões do país, com seus hábitos e costumes locais, o mais instigante é perceber a simbologia construída em torno dos alimentos. Diante de um intenso processo de globalização cultural, os temas e, especialmente, os conteúdos abordados nas telas de patchwork mostram a resistência à hegemonia de uma cultura massificada, mercantilizada e monopolizada, por parte de diferentes olhares que resgatam a presença de frutas locais, temperos e significados simbólicos que constroem sobre eles, tais como aqueles ligados à: beleza, energia, proteção, prosperidade, crenças religiosas e místicas, sensualidade e sexualidade, culturas regionais. A hipótese sustentada é a de que pelos matizes costurados nas telas de patchwork pode se vislumbrar não apenas uma diversidade de sabores, mas também de saberes e práticas culturais. Portanto, tratar de “cheiros, temperos e sabores” permite compreender aspectos socioculturais do país.