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As duas mortas do Brasil: Inquisição e heresia judaizante no Brasil – séculos XVI-XVIII
Angelo Adriano Faria de Assis.
XIV Jornadas Interescuelas/Departamentos de Historia. Departamento de Historia de la Facultad de Filosofía y Letras. Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, 2013.
Resumen
Ao longo dos três séculos em que esteve sob dominação portuguesa, o Brasil manteve o monopólio religioso católico, implantado desde 1497 por D. Manuel I, o Venturoso, de expulsão de judeus e mouros, transformado pouco mais tarde em decreto de conversão forçada ao cristianismo. Calcula-se que cerca de cento e cinquenta mil indivíduos (15% da população total) tornaram-se cristãos batizados à força. Tornaram-se, da mesma forma, os grandes suspeitos de ameaça à pureza católica, acusados de ser falsos cristãos. Muitos dos portugueses que vieram para a América a partir de 1500, eram conversos. Alguns, continuaram secretamente a manter crenças, costumes, práticas, comportamentos e ideologias das religiões que foram obrigados a abandonar. A manutenção oculta destas religiosidades, conhecidas como criptomarranismo e criptojudaísmo, levou a Igreja a implementar, em 1536, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, que buscava deter o avanço das heresias e a pureza do catolicismo em Portugal e seus domínios. O aumento das pressões contra os cristãos-novos suspeitos de judaizar ou islamizar com a criação da Inquisição, levou a que muitos destes indivíduos buscassem espaços cada vez mais distantes. O Brasil tornou-se, assim, dos destinos preferidos destes criptomarranos e, principalmente, dos criptojudeus, vistos como a principal ameaça ao catolicismo e razão primeira para a criação da Inquisição portuguesa. Rapidamente tornaram-se comerciantes, traficantes de escravos, senhores de engenho, homens fundamentais para a estratégia colonizatória portuguesa na região. Sem um tribunal inquisitorial estabelecido no Brasil, muitos cristãos-novos mantiveram práticas proibidas, criando sinagogas, mantendo hábitos alimentares e de luto, ensinando orações e realizando celebrações da fé dos antepassados. Estavam, antes, mais preocupados com a própria sobrevivência do que com as questões de fé. Por serem proibidas e terem que ser vividas em segredo, em geral, as práticas da antiga fé eram ensinadas aos filhos e descendentes nas residências, onde ganha destaque o papel das mulheres, grandes responsáveis pela propagação da religião dos antepassados. Nesta apresentação, focaremos dois grandes exemplos da preservação e continuidade do judaísmo colonial: Ana Rodrigues, cristã-nova moradora na Bahia durante o século XIV, e Guiomar Nunes, moradora na Paraíba do Setecentos. A primeira, foi a primeira vítima à fogueira da Inquisição no Brasil, sendo queimada em estátua por já estar morta há dez anos. A segunda, foi também executada em nome do Santo Ofício. Foram as duas únicas mulheres vítimas da perseguição inquisitorial oriundas do Brasil. O estudo de seus processos reflete, para além da intolerância religiosa que sofreram, suas trajectórias de vida e as estratégias de sobrevivência e de divulgação de suas crenças às novas gerações. São exemplos de como a microanálise pode ser importante para desvendar a História, revelando identidades, discursos, discursos, representações e práticas.
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