Geograficamente, é evidente que o Brasil faz parte da América Latina, porém quando se está no âmbito da análise da identidade latino-americana percebe-se o distanciamento entre o Brasil e os países hispano-americanos. Percebe-se a relutância da sociedade brasileira em assumir uma identidade(s) latino-americana. Esta dificuldade é histórica e está ligada tanto ao seu período colonial – que, diferentemente dos outros países do subcontinente, passou por uma colonização lusitana, marcada pela extração de produtos primários e pela escravidão africana – e pós-colonial quanto a denominação do território como América Latina. O batismo da região com este nome, América Latina, sucumbiu denominações dadas pelos povos originários, uma forma de silenciar a antiguidade do lugar. Para Celso Furtado, esta designação tinha apenas um sentido espacial, sem uma preocupação com as semelhanças e diferenças entre os países; enquanto para Anibal Quijano, esta denominação é uma forma de colonialidade do poder. O Brasil sempre mostrou dificuldade em conectar-se a seus vizinhos, seja pela diferença do regime colonial implantado ou pelas preferências nas relações políticas e econômicas. Segundo Darcy Ribeiro, apesar da unidade geográfica, as distintas implantações coloniais, das quais nasceram as sociedades latino-americanas, coexistiram sem conviver e este “perto-longe” aconteceu por séculos. A construção de uma identidade latino-americana por parte dos brasileiros, que neste estudo será tratada como um “sentimento de pertencimento”, possui suas dificuldades enraizadas na história de formação deste subcontinente, assim como, nas decisões político-econômicas atuais. Uma ideia que está além da integração da infraestrutura ou da economia destes países, que leva em consideração as similitudes por detrás das realidades históricas e culturais de cada país da América Latina. Destarte, a investigação dessa deste sentimento, com a problematização do conceito “América Latina” e da construção de uma identidade(s) latino-americana, é o objetivo deste artigo. Busca-se identificar as semelhanças entre os países do subcontinente que são ignorados pela sociedade brasileira e os aspectos que ajudam na manutenção deste contexto. No intuito de cumprir o objetivo proposto, este estudo utilizará as contribuições de Porto-Gonçalves e Quental, Héctor Bruit, Enrique Dussel, Darcy Ribeiro, Símon Bolívar, Celso Furtado, entre outros autores.